Em Hiroshima existe uma estátua erigida em memória das crianças que morreram vítimas da bomba atómica no Parque Memorial da Paz também conhecida como Torre dos Tsurus.
A ideia surgiu a partir da história de Sadako Sasaki, uma criança vítima de leucemia fruto da exposição à radiação causada pelos ataques a Hiroshima, no Japão. Sadako, nos seus últimos meses, dedicou-se a dobrar 1000 tsurus, em troca de um desejo.
Deixamos, aqui, a lenda japonesa que afirma que qualquer um que dobre mil tsurus de papel, terá o seu desejo concretizado pelos Deuses...
Conta a lenda que um camponês muito pobre vivia numa cabana humilde e o seu único alimento era algumas verduras que colhia da sua terra cansada.
Um dia, enquanto tentava plantar numa terra mais ao longe por achar menos árida, encontrou um grou com a asa partida. A ave não podia voar em busca de alimento, estava fraca e à beira da morte. O camponês sentindo compaixão por tamanho sofrimento, rapidamente colocou o grou nos seus braços e levou-o para a sua cabana. Cuidou da asinha e, pacientemente, colocou no seu bico algumas sementes. Com o passar dos dias, o grou melhorou porque a bondade do camponês o livrou da morte. Quando ele conseguiu voar, o camponês libertou-o.
Alguns dias depois, uma mulher adorável apareceu na sua cabana pedindo-lhe abrigo por uma noite. O camponês, por ser uma pessoa de bom coração, não negaria esta caridade a nenhuma pessoa. Porém, a beleza daquela mulher fez com que ele acreditasse que deixá-la dormir na sua humilde cabana era realmente uma honra.
Imediatamente após aquela noite, os dois apaixonaram –se e casaram-se. A noiva era delicada, atenciosa e tinha tanta disposição para o trabalho quanto era bonita. E assim eles viviam muito felizes. Mas para o camponês, que já tinha muita dificuldade quando vivia sozinho, ficou muito mais difícil ainda cobrir as despesas que sua nova vida de casado lhe trazia.
Preocupada com esta situação, a esposa disse ao marido que produziria um tecido especial, pois tecer era um trabalho comum para as mulheres nessa época. Ele poderia vendê-lo para ganhar dinheiro, mas ela alertou –o que precisaria fazer o seu trabalho em segredo, e que ninguém, nem mesmo ele, o seu marido, poderia vê-la tecer.
O homem construiu uma pequena cabana nos fundos da casa onde ela trabalhou trancada durante três dias. O marido só ouvia o som do tear a bater. A curiosidade e a saudade que tinha de sua bela mulher fazia com que estes dias demorassem muito para passar.
Quando o som da tecelagem parou, ela saiu com um lindo tecido entre os braços, de textura delicada, brilhante e com desenhos exóticos. A tecelã deu –lhe o nome de “Mil Penas de Tsuru”.
O marido então levou o tecido para a cidade. Os comerciantes ficaram surpreendidos e lutaram entre si para consegui-lo. O vencedor da disputa pelo tecido pagou com muitas moedas de ouro. O pobre homem não podia acreditar que tão de repente a sorte lhe começasse a sorrir. Desde então, a esposa passou a trabalhar no valioso tecido outras vezes. O casal podia, com o fruto da venda, viver em conforto. A mulher, porém, tornava-se dia após dia mais magra.
Um dia, a esposa tecelã disse ao marido que não poderia tecer durante um longo período de bom tempo. A mulher estava muito cansada. Os ossos doíam-lhe e a fraqueza quase a impedia de ficar em pé.
O camponês amava-a muito e acreditava naquilo que a esposa dizia, no entanto, tinha experimentado a cobiça. Tinha contraído algumas dívidas na cidade e pediu para que ela tecesse somente mais uma vez. A princípio ela não aceitou, mas perante a insistência do marido, cedeu e começou a tecer novamente.
Desta vez ela não saiu da pequena cabana no terceiro dia como era de costume, o homem ficou preocupado. Mais três dias se passaram sem que ela aparecesse e isso começou a deixar o marido desesperado.
No sétimo dia, sem saber o que fazer, o homem quebrou a promessa que fizera e espiou a mulher a tecer.
Para sua surpresa, viu que não era a sua mulher que estava a tecer. Arqueada sobre o tear encontrava-se um grou, muito parecido com aquele que o camponês tinha curado.
O homem mal pôde dormir à noite, pensando o que teria acontecido com a mulher que amava. Amaldiçoava-se por ter sido insaciável e praticamente ter obrigado a esposa amada a tecer uma vez mais.
Na manhã seguinte, a porta da cabana abriu-se e o camponês com o coração aos saltos fixou os olhos na porta, esperançoso em ver a esposa sair com vida.
A mulher saiu da cabana com profundas olheiras, trazendo o último tecido nas mãos trémulas. Entregou-o para o marido e disse, “Agora preciso de voltar, tu viste a minha verdadeira forma, sendo assim, eu não posso mais ficar contigo”.
Depois de dizer estas palavras, transformou-se na sua verdadeira forma para em seguida levantar voo exibindo um lindo rasto de pó cintilante deixando o camponês arrependido e lavado em eterna lágrimas.
Adaptado do texto de Maria Rosa (Artigo criado originalmente em 2006).
Principais fontes de pesquisa:
Site/Jornal: The Asahi Shimbun;
Livro: Mythis Legends of Japan de F. Hadland Davis;
Livro: Contes et légendes du Japon de Maurice Coyaud.
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