Museu do Ferreiro
Entrevista a Susete Romba, uma mulher com a iniciativa
de abrir um núcleo museológico
Professora de português e explicadora foram alguns dos trabalhos ao
longo da vida de Susete Romba. Residente no Pereiro e atualmente reformada, há
uns anos atrás lutou pela criação do núcleo museológico do Museu do Ferreiro,
situado na sua aldeia natal.

Tiago Mestre (entrevistador) - Boa
tarde, sr.ª Suzete.
Susete Romba (entrevistada) - Boa
tarde.
TM - Nós gostaríamos de lhe fazer uma pequena entrevista. É possível?
SR - Sim, é possível.
TM - Vamos então começar com as perguntas. Quanto tempo demorou o museu a ser
construído?
SR - O museu demorou muito tempo, desde esta ideia ser
concebida até ao início da construção, porque teve de se apresentar um projeto,
no legado de Tavira, ou seja, no gabinete de apoio técnico de Tavira. Foi este gabinete que fez o projeto. Isto demorou mais ou menos oito anos até ao início da
construção. Portanto, a construção propriamente dita demorou talvez um ano, talvez não
tenha chegado a um ano, penso eu.
TM - Há quantos anos o museu foi
inaugurado?
SR - O museu foi inaugurado a 8 de maio de 2011 que dá mais
ou menos oito anos.
TM - Qual foi o incentivo de abrir o museu?
SR - Em primeiro lugar, eu queria dizer duas coisas. No
lugar onde fica este núcleo museológico funcionou sempre a oficina do
ferreiro, que foi o meu pai, que foi o último ferreiro. O meu pai
trabalhou ali durante muitos anos, tenho muitas recordações desse tempo. Depois, aqui há uns anos atrás, ocorreu no Pereiro um curso de formação
profissional com o nome de Artes do ferro. A partir desse curso, eu sugeri a
ideia de se construir onde era antiga casa do ferreiro, que estava já em
ruínas, um núcleo museológico sobre essa temática, que se construísse ali uma obra para mostrar às pessoas o que foi esta
atividade, a atividade do ferreiro. Seria, portanto, um núcleo museológico. Eu e a
doutora Vitória Casinello, ela que tinha dado aulas de história e eu de português a
esse curso de formação profissional, fomos à Câmara Municipal de Alcoutim, marcámos uma reunião com o
Presidente da Câmara e realmente essa ideia foi concretizada e foi construída
ali a casa do ferreiro.
TM - Onde foram
encontradas as peças do museu?
SR - As peças do museu já eu tinha quase tudo na minha
posse, porque um tio meu, um tio materno, tinha uma pequena oficina. Ele também
trabalhou aqui nesta oficina do Pereiro. Ele era irmão da minha mãe e ele
tinha também uma pequena oficina na freguesia de Martim Longo, nos Castelhanos, e sempre me disse que iria deixar os objetos da oficina para mim, porque ele
sabia que eu gostaria de abrir ainda um pequeno museu no Pereiro e ele disse-me:
“Olha, se abrires um museu e eu cá já não esteja, tudo o que eu lá tenho na
oficina é para o museu”. Portanto, eu guardei tudo para depois pôr no museu e a maior parte dessas peças
que ali estão eram do meu tio Manuel João.
TM - Quantos objetos tem a coleção do
museu?
SR - Agora de momento não tenho a certeza, mas a maior
parte das coisas que ali estão são as peças que o ferreiro utilizava no seu
trabalho, desde o fole, o banco onde o ferreiro picava as foices, até aos
tornos, as bancadas. Há ali uma bancada onde estão peças que o ferreiro usava para o seu
governo.
TM - Qual é a peça mais antiga do museu?
SR - A peça mais antiga que ali está creio que é a
bigorna, porque aquela bigorna já pertenceu ao meu avô paterno, que também era ferreiro, num monte do Baixo Alentejo no concelho de Mértola, onde o meu pai aprendeu o
ofício com o pai dele e onde trabalhou ainda um tempo. Essa peça, que veio ali para
o museu, deve ter mais de cem anos. A outra, que ali está e que também é antiga, é o fole que era
aquilo que alimentava a forja que estava sempre acesa, que está logo à
entrada, à direita. É uma peça muito antiga que foi restaurada assim como todos
as outras peças que estão ali no museu. Portanto, a maioria que ali está eram
desse meu tio Manuel João. A maioria daquelas que ali estão, foram restauradas
numa empresa em Lisboa.
TM - Qual é a peça mais valiosa do
museu?
SR - A peça mais valiosa do museu eu diria que são estas
duas a bigorna pela sua antiguidade e o fole. Mas já agora, a propósito do que
estamos aqui a dizer, eu, quanto à construção do museu, fiquei muito desiludida,
porque, quando vi a obra já no fim, eu não vi a forja montada no museu. A forja
era o elemento principal da oficina, porque a forja incluía o fole que tinha de
estar lá colocado para o ajudante do ferreiro poder puxar uma corda que abria e
fechava o fole que ia soprar a vala. Por um tempo
fiquei com uma grande pena do elemento principal da oficina não ficar lá. A oficina não foi contemplada com esse elemento.
TM - Qual é a peça que mais gosta no museu?
SR - A peça de que mais gosto, das que lá estão é o fole. Gosto
muito do fole.
TM - Museu tem muitos visitantes?
SR - Não tem tantos como nós gostaríamos, mas de vez em
quando aparecem aí visitantes, ainda vamos tendo visitantes, estrangeiros,
portugueses também do norte do país. Mas gostaríamos que viessem mais visitantes
ainda, pelo menos alunos das escolas, porque em princípio se a forja tivesse
sido construída, simulava-se ali o trabalho do ferreiro com a forja a trabalhar
para os miúdos das escolas, para que os alunos pudessem ver como é que era o
trabalho do ferreiro.
TM - A maioria dos
visitantes tem opinião favorável sobre o museu?
SR - Têm, Têm sim, senhora. Sim!
TM - Obrigado pela sua disponibilidade, por ter cedido o nosso pedido!
SR - Olha, tive muito gosto em receber-vos aqui, quando
precisarem de alguma coisa que eu possa e saiba responder ou qualquer outra
coisa que precisarem, eu estarei disponível. Gostei muito!
TM - Obrigado! Uma boa tarde.
SR - Obrigado eu também, boa tarde.
Com esta entrevista a Susete Romba, ficámos a conhecer a
história do museu, qual foi o incentivo para o abrir, donde vieram as peças expostas e quais as mais valiosas.
#aLeR+ #umaescoladeleituras
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