quarta-feira, 17 de junho de 2020

Entrevista



Museu do Ferreiro
Entrevista a Susete Romba, uma mulher com a iniciativa de abrir um núcleo museológico
Professora de português e explicadora foram alguns dos trabalhos ao longo da vida de Susete Romba. Residente no Pereiro e atualmente reformada, há uns anos atrás lutou pela criação do núcleo museológico do Museu do Ferreiro, situado na sua aldeia natal.


Tiago Mestre (entrevistador) - Boa tarde, sr.ª Suzete.
Susete Romba (entrevistada) - Boa tarde.
TM - Nós gostaríamos de lhe fazer uma pequena entrevista. É possível?
SR - Sim, é possível.
TM - Vamos então começar com as perguntas. Quanto tempo demorou o museu a ser construído?
SR - O museu demorou muito tempo, desde esta ideia ser concebida até ao início da construção, porque teve de se apresentar um projeto, no legado de Tavira, ou seja, no gabinete de apoio técnico de Tavira. Foi este gabinete que fez o projeto. Isto demorou mais ou menos oito anos até ao início da construção. Portanto, a construção propriamente dita demorou talvez um ano, talvez não tenha chegado a um ano, penso eu.
TM - Há quantos anos o museu foi inaugurado?
SR - O museu foi inaugurado a 8 de maio de 2011 que dá mais ou menos oito anos.
TM - Qual foi o incentivo de abrir o museu?
SR - Em primeiro lugar, eu queria dizer duas coisas. No lugar onde fica este núcleo museológico funcionou sempre a oficina do ferreiro, que foi o meu pai, que foi o último ferreiro. O meu pai trabalhou ali durante muitos anos, tenho muitas recordações desse tempo. Depois, aqui há uns anos atrás, ocorreu no Pereiro um curso de formação profissional com o nome de Artes do ferro. A partir desse curso, eu sugeri a ideia de se construir onde era antiga casa do ferreiro, que estava já em ruínas, um núcleo museológico sobre essa temática, que se construísse ali uma obra para mostrar às pessoas o que foi esta atividade, a atividade do ferreiro. Seria, portanto, um núcleo museológico. Eu e a doutora Vitória Casinello, ela que tinha dado aulas de história e eu de português a esse curso de formação profissional, fomos à Câmara Municipal de Alcoutim, marcámos uma reunião com o Presidente da Câmara e realmente essa ideia foi concretizada e foi construída ali a casa do ferreiro.
TM - Onde foram encontradas as peças do museu?
SR - As peças do museu já eu tinha quase tudo na minha posse, porque um tio meu, um tio materno, tinha uma pequena oficina. Ele também trabalhou aqui nesta oficina do Pereiro. Ele era irmão da minha mãe e ele tinha também uma pequena oficina na freguesia de Martim Longo, nos Castelhanos, e sempre me disse que iria deixar os objetos da oficina para mim, porque ele sabia que eu gostaria de abrir ainda um pequeno museu no Pereiro e ele disse-me: “Olha, se abrires um museu e eu cá já não esteja, tudo o que eu lá tenho na oficina é para o museu”. Portanto, eu guardei tudo para depois  pôr no museu e a maior parte dessas peças que ali estão eram do meu tio Manuel João.
TM - Quantos objetos tem a coleção do museu?
SR - Agora de momento não tenho a certeza, mas a maior parte das coisas que ali estão são as peças que o ferreiro utilizava no seu trabalho, desde o fole, o banco onde o ferreiro picava as foices, até aos tornos, as bancadas. Há ali uma bancada onde estão  peças que o ferreiro usava para o seu governo.
TM - Qual é a peça mais antiga do museu?
SR - A peça mais antiga que ali está creio que é a bigorna, porque aquela bigorna já pertenceu ao meu avô  paterno, que também era ferreiro, num monte do Baixo Alentejo no concelho de Mértola, onde o meu pai aprendeu o ofício com o pai dele e onde trabalhou ainda um tempo. Essa peça, que veio ali para o museu, deve ter mais de cem anos. A outra, que ali está e que também é antiga, é o fole que era aquilo que alimentava a forja que estava sempre acesa, que está logo à entrada, à direita. É uma peça muito antiga que foi restaurada assim como todos as outras peças que estão ali no museu. Portanto, a maioria que ali está eram desse meu tio Manuel João. A maioria daquelas que ali estão, foram restauradas numa empresa em Lisboa.
TM - Qual é a peça mais valiosa do museu?
SR - A peça mais valiosa do museu eu diria que são estas duas a bigorna pela sua antiguidade e o fole. Mas já agora, a propósito do que estamos aqui a dizer, eu, quanto à construção do museu, fiquei muito desiludida, porque, quando vi a obra já no fim, eu não vi a forja montada no museu. A forja era o elemento principal da oficina, porque a forja incluía o fole que tinha de estar lá colocado para o ajudante do ferreiro poder puxar uma corda que abria e fechava o fole que ia soprar a vala. Por um tempo fiquei com uma grande pena do elemento principal da oficina não ficar lá. A oficina não foi contemplada com esse elemento.
TM - Qual é a peça que mais gosta no museu?
SR - A peça de que mais gosto, das que lá estão é o fole. Gosto muito do fole.
TM - Museu tem muitos visitantes?
SR - Não tem tantos como nós gostaríamos, mas de vez em quando aparecem aí visitantes, ainda vamos tendo visitantes, estrangeiros, portugueses também do norte do país. Mas gostaríamos que viessem mais visitantes ainda, pelo menos alunos das escolas, porque em princípio se a forja tivesse sido construída, simulava-se ali o trabalho do ferreiro com a forja a trabalhar para os miúdos das escolas, para que os alunos pudessem ver como é que era o trabalho do ferreiro.
TM - A maioria dos visitantes tem opinião favorável sobre o museu?
SR - Têm, Têm sim, senhora. Sim!
TM - Obrigado pela sua disponibilidade, por ter cedido o nosso pedido!
SR - Olha, tive muito gosto em receber-vos aqui, quando precisarem de alguma coisa que eu possa e saiba responder ou qualquer outra coisa que precisarem, eu estarei disponível. Gostei muito!
TM - Obrigado! Uma boa tarde.
SR - Obrigado eu também, boa tarde.
Com esta entrevista a Susete Romba, ficámos a conhecer a história do museu, qual foi o incentivo para o abrir, donde vieram as peças expostas e quais  as mais valiosas.


#aLeR+ #umaescoladeleituras

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