terça-feira, 11 de outubro de 2022

Todas as Crianças da Terra - Sidónio Muralha

Um capacete de guerra tem um ar carrancudo.

Muito mais bela é uma flor.

Uma flor tem tudo

para falar de paz e de amor.


Mas se virarmos o capacete de guerra

ele será um vaso, e é bem capaz

de ter uma flor num pouco de terra

e falar de amor e de paz.


A paz é uma pomba que voa.

É um casal de namorados.

São os pardais de Lisboa

que fazem ninho nos telhados.


E é o riacho de mansinho

que saltita nas pedras morenas

e toda calma do caminho

com árvores altas e serenas.


A paz é o livro que ensina.

É uma vela em alto mar

e é o cabelo da menina

que o vento conseguiu soltar.


E é o trabalho, o pão, a mesa,

a seara de trigo ou de milho,

e perto da lâmpada acesa

a mãe que embala seu filho.


A paz é quando um canhão

muito feio e de poucas falas,

sente bater um coração

e dispara cravos, em vez de balas.


E é o abraço que dás

no dia em que tu partires,

e as gotas de chuva da paz

no balanço do arco-íris.


A paz é a família inteira

na alegria do lar,

bem juntinho a lareira

quando o inverno chegar.


A paz é a onda redonda

que da praia tem saudades

e muito mais do que a onda

a paz é a vida sem grades.


A paz são aquelas abelhas

que nos dão favos de mel

e todas as papoulas vermelhas

que eu desenho no papel.


Ventoinha, ventarola,

Moinho que faz farinha,

Meninos que vão à escola,

A paz é tua e é minha.


É luar de lua cheia

tocando as casas e a rua,

são conchas, búzios na areia,

a paz é minha e é tua.


É o povo todo unido,

no mundo, de norte a sul,

e é um balão colorido

subindo no céu azul


A paz é o oposto da guerra,

é o sol, são as madrugadas,

e todas as crianças da terra

de mãos dadas, de mãos dadas,

de mãos dadas.

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